Filme Meu Malvado Favorito X Cultura Organizacional
19/11/2013 21:46
O filme retrata a história do super vilão “Gru” que busca destaque em sua profissão, mas demonstra não ter muito jeito para isso. Algumas de suas maldades já chamaram atenção e até ganharam manchetes em jornais. No entanto, vemos que esse comportamento foi adotado “automaticamente”, sem questionamentos e reflexões. Em sua infância, Gru sonhava em ser um astronauta, mas sua mãe nunca o apoiou. Então quando cresceu procurou reconhecimento em tudo. Esse personagem viveu sob uma doutrina de cobrança, rigidez, falta de incentivo, sem acolhimento familiar, apoio e autoconfiança. Sua mãe sempre manteve uma postura intolerante e cobrava muito que seu filho fosse um dos maiores e mais temidos vilões do mundo, sempre fazendo comparações e ignorando qualquer esforço seu para agradá-la.
Esse cenário afetou sua personalidade, formando um pensamento negativo perante a sociedade. Ele nunca se sentiu acolhido, sempre esteve à disposição para realizar o desejo de quem fosse menos dele. Ser reconhecido tornou-se uma necessidade. Para isso, ele usa uma característica pertinente à de um líder – poder de influência, persuasão e manipulação sobre as pessoas.
Em sua base operária, Gru demonstra ser um grande líder, motivador, muito respeitado pelos seus subordinados. Reconhece todos pelo nome e parece ser muito próximo aos operários. Respeitado pela equipe, suas decisões são aceitas com facilidade e todos se mostram muito engajados em atingir o objetivo. Também disponibiliza treinamentos, projetos de conscientização e até aulas de ginástica para aliviar o stress de seus pequenos operários. Gru transformou seu objetivo em uma causa: criar um foguete e se tornar o maior vilão da História.
A forma como ele se relaciona com os operários é tão positiva, que mesmo sendo uma causa injusta (fazer maldade e se tornar o maior vilão), torna-se a razão do trabalho de todos. Por mais bondosos que os mínions fossem, seu líder os influencia de tal maneira, que não vêem maldade em fazer maldade, pelo contrário, vibram com cada roubo e sucesso do vilão.
Esse é um dos grandes modelos esperado de líder – ser próximo à equipe, demonstrar interesse e preocupação. Transmitir ao funcionário a visão, valores, missão e a causa pela qual trabalha. Com isso ele dará o melhor de si, identificando-se com a cultura da empresa, se sentirá parte integrante da companhia. A causa da empresa será sua causa.
As três irmãs órfãs Margo, Agnes e Edith, viveram parte de suas vidas sob o mesmo ambiente que cresceu Gru. Sra Hattie, a diretora do orfanato em que viviam, também possui uma postura autoritária e repressora, muito parecida com a mãe de Gru, no entanto, mais hostil, anti ética e preconceituosa. Em um determinado momento da trama, diz a uma das meninas que nunca será adotada e exigiu que as irmãs vendessem cada vez mais doces sob pena de ficarem em uma caixa nomeada a caixa da vergonha. Essas meninas mostraram resiliência e não se intimidaram à postura da diretora. Obedeceram ao comando dela, mas permaneceram firmes e unidas. Essa motivação intrínseca também estava presente nos Mínions.
Uma das características almejada pelas empresas é exatamente essa capacidade de superar as pressões e dificuldades do ambiente, sem afetar os relacionamentos e sua essência como pessoa, pois alguns gestores são excelentes em processos e resultados, mas no que tange pessoas, tornam-se profissionais como a diretora do orfanato e a mãe de Gru - autoritários, mal ouvintes e pouco habilidosos no gerenciamento de conflitos.
Gestão de Conflitos é uma competência também apresentada pelo protagonista da história, pois apesar das pressões e exigências do banco, da mãe, do parceiro de trabalho (sr Nefário), ele não reproduz à equipe essa pressão. Inclusive a transparência, calma e sobriedade com que transmite à equipe a notícia de que não conseguiriam o financiamento, colabora para um clima participativo e compreensivo. O artefato que comprova isso é a própria postura dos Mínions de cooperação e solidariedade oferecendo as próprias economias, para que o projeto vá adiante.
Quando mais uma vez a postura da mãe seria reforçada, diante de mais uma rejeição, o vilão teve a oportunidade de mudar sua cultura, pois ele se viu apoiado pela equipe e filhas adotivas. O clichê “nada do que você faz é bom” foi desfeito e todo apoio que ele buscava foi oferecido. Isso mudou sua visão, postura e cultura. A partir daí ele dá outro rumo à história, se dedica a fazer algo que realmente quer. Torna - se um bom pai e deixa de ser vilão.
Nem sempre é possível mudar uma cultura. Em uma empresa, ela é ditada por uma série de fatores, principalmente pela linha de raciocínio de seus fundadores. Se a alta diretoria tem um perfil flexível, provavelmente, a possibilidade de causar mudança na cultura de empresa é maior do que em uma empresa em que a diretoria é pouco acessível e tradicionalista.
Embora seja difícil mudar a cultura, a empresa pode mudar seu objetivo, produto, mercado, rotina de trabalho, localidade e até mesmo os integrantes das equipes. Foi o que aconteceu com a equipe de Gru, sem recursos financeiros, reinventou toda a estratégia, processos, matéria prima e rotina de trabalho para chegar ao produto final (o foguete).
Vetor, Gru e as três irmãs estiveram sujeitos ao mesmo estilo cultural. As autoridades que os comandavam tinham basicamente as mesmas características: não os deixavam livres para as próprias escolhas, alto grau de exigência e opressão, autoritarismo, falta de reconhecimento e indiferença. No entanto, a reação que cada um teve diante desses estímulos foi diferente. Gru assumiu uma condição de decepção e busca por aceitação. Em algum momento, ele teve a oportunidade de mudar essa condição e conseguiu, porque na verdade não fazia parte dele, foi uma conduta incorporada. As três irmãs mantiveram-se firmes em sua postura, sempre juntas, unidas, demonstraram fortaleza, porque afinal elas proporcionaram ao Gru a possibilidade de mudança.
Vetor pareceu ser o personagem mais engessado, adotou o desejo do pai como verdade absoluta. Apesar de ser jovem determinado e equipado da mais alta tecnologia, durante a trama inteira atuou sozinho, sem parcerias e sem equipe. Contou com a ajuda somente de seu pai (diretor do Banco dos Super vilões), uma figura bastante intolerante, de inúmeras semelhanças à diretora do orfanato e à mãe de Gru. Ele quem norteou a situação para um clima competitivo, de rivalidade e trapaça.
O mundo corporativo é muito competitivo. As empresas buscam status, reconhecimento e espaço no mercado. Para isso, traçam estratégias competitivas envolvendo seus colaboradores, sempre cobrando - os ao máximo para atingir seus ideais. É através das pessoas que elas poderão ou não se concretizar.
Ao final do filme, Gru é reconhecido como Herói quando salva as filhas adotivas e devolve a Lua em seu lugar. Sua mãe então diz a frase, tão sonhada e esperada por ele: “Parabéns filho! É isso aí!” Durante toda a trama, Gru busca grandes realizações, feitos arquitetônicos, construções, prêmios e reconhecimentos para impressionar a mãe, mas ao louvar a atitude do filho de se importar com o bem estar de alguém, ela demonstra que esperava dele um comportamento de outra grandeza, outro patamar, de cunho “humano”.
Em nosso trabalho nos comprometemos em desempenhar bem nosso papel, traçamos metas, agimos estrategicamente, alavancamos produtividade, e somos bem sucedidos, mas não devemos deixar que isso nos “consuma” de tal maneira, que no exclua do convívio social, familiar, nos divertir ou descansar. Há um tempo para todas as coisas. Um alto posto pode nos trazer satisfação, mas o envolvimento familiar e social é essencial para que transporte para a vida profissional, valores e virtudes aprendidos nesse meio.
A empresa pode até contar com grandes recursos, mas podemos constatar que onde os colaboradores cooperam e são conscientes de serem responsáveis pelo fracasso ou sucesso do projeto, há um ambiente muito mais produtivo. A tecnologia é muito importante, mas não deve ser a principal identidade da empresa. O trabalho humano é a diferença.
Por Cláudia Faria
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